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Márcio Dantas - Profº. do Ideal desde 2010. Formado em Filosofia pela PUC-PR. Foi Seminarista Escalabriniano por 6 anos, onde estudou noções de Teologia e Psicologia. |
Encontros que marcaram o ano de 2010
Entre os vários significados com que o Aurélio registra a palavra encontrar, encanta-me o de: descobrir, dar conta, achar o significado.
por: Márcio Dantas
Entre os vários significados com que o Aurélio registra a palavra encontrar, encanta-me o de: descobrir, dar conta, achar o significado.
O encontro a que me refiro é aquele de encontrar a resposta, de sentir o prazer da busca, de entender cada passo do caminho percorrido até o significado último.
O encontro pressupõe a curiosidade, o desejo de saber.
Abandonar o porto seguro e lançar-se à aventura do desconhecido requerem luz própria, coragem.
Ninguém melhor que o poeta Fernando Pessoa para esclarecer o que quero dizer: "Valeu a pena? Tudo vale a pena/ se a alma não é pequena./ Quem quere passar além do Bojador/ Tem que passar além da dor./ Deus ao mar o perigo e o abysmo deu/ Mas nelle é que espelhou o céu".
A vida se expressa na constante relação do homem com seus semelhantes e com a natureza.
O mistério que envolve esta relação (vida) provoca em todos nós, de diferentes maneiras, a angústia que tão bem caracteriza o ser humano.
Guimarães Rosa diz: "Vivendo se aprende; mas/ o que se aprende, mais,/ é só a fazer outras maiores perguntas".
Há um imenso prazer ao encontrar a luz do conhecimento verdadeiro, que desfaz em parte este mistério e pode nos mostrar o caminho para uma vida mais feliz.
Nosso potencial de felicidade é tão infinito quanto o é o próprio mistério que envolve a vida.
O encontro, neste contexto, tem, pois, o sentido de encontrar-se na sabedoria, na felicidade que advém deste crescimento pessoal.
Quanto mais entendo e amplio meus conhecimentos, mais fácil e feliz pode ser a vida.
O encontro apenas físico pode significar "encontrão", choque, confronto. A Consciência é, pois, o que diferencia o homem.
Duas pedras podem se chocar, ter um "encontrão" ladeira abaixo. Homens embrutecidos podem-se tocar, se matar, lutar pelo domínio do outro ou de uma posse qualquer, mas não podem se encontrar.
Homens sábios se encontram, trocam experiências, vivem juntos, unem suas forças e seus conhecimentos.
O ENCONTRO que integra |
Homens pouco sábios não encontram as matas, os rios e os animais, apenas os dominam e destroem. Por não entenderem a relação, homem e natureza padecem.
O encontro exige sabedoria, compreensão, inteligência.
As guerras, a violência urbana, a miséria, a fome e a ignorância são filhas do desencontro, da falta de consciência. São a negação da vida.
Tudo isto é muito pouco para produzir o encontro do homem com o homem e com a natureza.
A tecnologia, sem consciência da necessidade de preservar o meio ambiente, sem valores, como "Amar o próximo como a si mesmo", sem filosofia, sem sabedoria, é perigosa arma nas mãos de ignorantes.
Educar, promover a educação, transmitir conhecimento, cultivar o espírito, instruir-se.
A educação é sobretudo o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano, visando à sua melhor integração individual e social.
Não existe, pois, processo de educação sem a transmissão de valores éticos, sem formação e desenvolvimento moral, no sentido de alargamento da consciência do que é a vida e nunca no sentido de negar ou sufocar esta mesma vida.
Educar não é sinônimo de reprimir, disciplinar ou controlar. É antes dar conhecimento de limites, promover a humildade pelo aumento do saber, incentivar o autocontrole, promover a persistência na busca de seus objetivos, de uma vida mais feliz para si e para todos.
Não há educação sem a potencialização da capacidade de se comover com o belo, com as artes, com o mistério do universo infinito, com o canto dos pássaros, com o brilho do olhar da criança que chora ou do velho que simplesmente olha.
Nossos semelhantes, que descobriram os tesouros da humanidade, os grandes filósofos, músicos, poetas, cientistas, sábios em geral, em sua aparente solidão meditativa, foram os homens que viveram os maiores encontros. Chegaram mais perto da verdade, do universal, do belo, do eterno e por isso mesmo foram capazes de falar com toda a humanidade e com isso sobreviveram a seu tempo.
O ENCONTRO que ajuda |
A Mona Lisa de Leonardo da Vinci, a sabedoria pacífica de Gandhi, as sinfonias de Beethoven, a geometria de Euclides, os pensamentos do livro do Eclesiastes e tantas outras conquistas da inteligência humana resistem aos séculos e são faróis que iluminam nossa jornada pela vida.
O processo de educar-se confunde-se com a própria vida, pois esta é ação e um contínuo caminhar. Helena Kolody, por meio da poesia, nos mostra esta verdade: "Completou-se uma jornada./ Chegar é cair na inércia /de um ponto final/ Na euforia da chegada/ há um convite irrecusável/ para uma nova partida".
Igualmente Goethe ensina em sua filosofia: "A ação é tudo, a glória é nada".
Enquanto a história dos encontros do homem com a verdade revive em cada novo ser humano que nasce, cresce e se educa, a história dos desencontros, das grandes batalhas e grandes desgraças deve ser lembrada apenas como vacina contra novos desencontros.
É por esta razão que nas instalações, onde outrora existiu o campo de concentração de Dachau, na Alemanha, existe uma placa, em evidência, na qual se lê em diversos idiomas: Plus jamais, Never again, Nie wieder... (Nunca mais novamente).
É neste contexto, pois, que afirmamos: educar é promover encontros.
Do homem com a natureza.
Do homem com o homem.
Do homem com a ciência, as artes e a filosofia.
Não é possível educação sem encontros, assim como não é possível encontros sem compreensão, imaginação e inteligência.
Os encontros a que nos referimos produzem consciência, felicidade, educação.
Encontro de respeito, amor, cumplicidade na diferença e individualidade de cada aluno e professor.
Encontro com a beleza que existe no aumento do saber e da sensibilidade.
Encontro com o universal de Mozart e Einstein e com a particularidade única da atenção do professor e da amizade do colega.
Encontro na saudável competição esportiva com regras que evitam "encontrões" e na beleza da Geometria, da Química ou da Poesia.
Encontro, enfim, consigo mesmo e com a alegria de ser humano e poder celebrar todos os dias o mistério da vida.
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