Homenagem ao Ideatro e à Professora Maria Cândido

Todo discurso é sempre resultado de um outro discurso, pelo menos é o que dizem alguns lingüistas textuais, e se estamos sempre a reproduzir os discursos os tomamos com as nossas marcas, imprimimos nossas subjetividades, os deixamos “nossa cara”. Maria, (não a mãe de Jesus, mas a Maria Cândido), tão simples como a própria mãe do Jesus que inspirou, reproduziu o discurso bíblico, elaborou uma narrativa coesa, fidedigna ao propósito festivo, emocionante, criativa e, sobretudo, diferente! Maria, professora, mãe, mulher, cidadã, juntou trecho bíblicos, reescreveu, selecionou trechos musicais, organizou o povo, divulgou e mostrou sua narrativa, seu discurso inspirado no discurso bíblico, fiel, emocionante. Maria mostrou de maneira diferente – agora mostro onde está a diferença, - convidou alunos adolescentes, difíceis por natureza de lidar, os treinou, ensinou-lhes as artimanhas da arte, proporcionou-lhes o prazer do espetáculo e os fez passar para o público a importância da arte do teatro a partir da narrativa. Uma narrativa não apenas objetiva, mas carregada de subjetividade, onde os observadores não eram meros expectadores, mas interagiam pelo choro, pelo riso, pelo movimento constante do olhar flutuante sobre a criatividade de uma professora simples que nos tormentos do dia a dia encontrou tempo para ler, escrever, ensaiar, ser mãe, esposa e por último, ARTISTA.

Quem não viu a expressão do Jesus Jackson se contorcendo de dores, seu olhar de espanto, sua fisionomia representativa, - característica profissional, inusitadamente em um jovem adolescente? Foi espantosa a expressão facial deste menino quando o seu rosto era beijado pelo Judas. Jackson vivia o papel do homem traído pelo seu irmão, talvez nem o próprio Jesus tenha feito aquela expressão de decepção, mas Jackson arrancou-nos lágrimas dos olhos, (desculpe os puristas pelo pleonasmo) aplausos, admirações tudo isso montado dentro de um corpo textual perfeitamente organizado por uma professora que competentemente e de maneira sutil revela sua intelectualidade através da arte.

Todo o espetáculo foi montado dentro de um limite: limite de tempo, limite de recursos, limite de esforço físico, limite de horários, limite de horários, limite de espaço, mas todos assistiram à peça leram o texto bíblico que inegavelmente ensinou. Aos céticos, proporcionou o prazer pela arte, o fascínio da história, ao ateu, adicionou a dúvida, aos cristãos, proporcionou o reforço da fé, aos intelectuais o interesse pela história e o conhecimento mais profundo pela tessitura das relações sociais e militância. Ninguém saiu daquele lugar como entrou, foi um momento de aprendizado.

Por tudo isso acredito, que o Ideal Colégio e Curso é privilegiado em ter em seu quadro alguém que ler e interpreta, cria, monta e remonta textos, seja qual gênero for e faz a emoção explodir sem medo ou receio de ver escorrer nos rostos de crianças e adultos o mais expressivo gesto de emoção: AS LÁGRIMAS! Sendo assim, nossos aplausos aos alunos que brilhantemente apresentaram seus papeis, ao Jesus jovem, ao João Batista branco, ao Judas, ao Herodes, à Maria que esbravejou sem medo de provocar risos em vez de choro, aos soldados, e até ao Satanás com seu sorriso engraçado e olhar penetrante, aos ajudantes que puxavam as cortinas e ao ICC que proporcionou a alegria. À Maria Cândido, nossa Maria Maria, ficam os nossos gloriosos aplausos por mais um trabalho maravilhoso, dos quais tantos outros já fizeram seu suor descer-lhe rosto abaixo... fica também o desejo de que esteja sempre usando sua criatividade no sentido de promoção da arte, da cultura e da história, assim como brilhantemente fez, e que a cada evento, possamos não assistir a uma narrativa isolada de sentimentos, mas um discurso carregado de emoção, que não poupe as lágrimas e nem reprima o sorriso, mas que seja alívio e esperanças aos expectadores.

Texto produzido e enviado pelo Profº. Ranilson Duarte em homenagem ao Ideatro pela peça organizada pela Profª Maria Cândido na Páscoa de 2011.